É o 8 1/2 da Pina Bausch, disse Fellini. Se em "A Sagração da Primavera", de 1975, que pudemos ver em filme no Teatro São Luiz um dia antes de, no mesmo teatro, vermos ao vivo Café Müller, a coreógrafa utiliza movimentos que poderemos designar como pertencendo a uma estética "neo-clássica", Café Müller (1978) cria uma nova estética que ficou conhecida como "teatro-dança". Da dança neo-clássica anterior nada resta e percebemos que estamos num outro universo que já não é propriamente "dança". Daí a designação Teatro-Dança, adoptada pela própria Pina Bausch. Para a dança Pina Bausch foi um pouco como o Stravinsky para a música: o retorno à "pulsão", contra a racionalidade (não nos deixemos iludir porque Stranvinsky foi um dos maiores "racionalistas" da história da música e não é por acaso que Pierre Boulez o considera talvez a referência maior da "pré-contemporaneidade"). Basicamente porque, tal como na Sagração da Primavera de Stravinsky, o ritmo quadrado pós-romântico é quebrado e desestruturado, criando-se uma nova maneira de pensar e trabalhar o aspecto rítmico, e prespectivando-se um novo mundo musical. Não será por acaso que Pina Bausch decidiu respeitar as indicações coreográficas do compositor da Sagração da Primavera na coreografia que fez desta obra em 1975, mas, na realidade, foi anos mais tarde, trabalhando sobre música barroca e sobre o silêncio com o ruído dos corpos e seus movimentos, que Pina Bausch criou a Sagração da Primavera da dança: Café Müller.
Debussy - Préludes
Em Agosto do ano passado falámos aqui do compositor francês Claude Debussy (1862-1918) referindo, de passagem, os seus Prelúdios. Um prelúdio, tal como o nome o dá a entender, é uma peça instrumental introdutória de uma obra musical. Ou melhor, começou por assim ser, até que, já no século XIX, ganhou vida própria e tornou-se numa peça independente, graças a Frédéric Chopin (1810-1849).
Depois dele, vários outros compositores investiram no género, com especial destaque para Debussy. Com diferenças fundamentais, contudo. Os Prelúdios de Debussy são "cenas da sua vida emocional" e, por via disso e ao contrário dos de Chopin, ostentam títulos. Que, contudo, só aparecem no fim das partituras, como se o compositor nos quisesse esconder até ao limite as motivações de cada um dos 24 que compôs. Por outro lado, Debussy evoca momentos e procura criar uma determinada atmosfera, enquanto Chopin tinha procurado retratar estados de alma.
Os Prelúdios de Debussy dividem-se em dois grupos, de 12 cada. Os que pertencem ao primeiro livro foram compostos num curto espaço de tempo, entre Dezembro de 1909 e Fevereiro do ano seguinte. Quatro deles, os números 1, 2, 10 e 11 foram tocados em público pela primeira vez pelo próprio compositor no dia 5 de Maio de 1910, passam hoje 98 anos. Debussy levou bastante mais tempo a escrever os do segundo livro, deles se tendo ocupado entre 1910 e 1912. Mais difíceis de compor e também de menor aceitação pelo público que, historicamente, sempre manifestou preferência pelo primeiro. A terminar, uma pequena curiosidade: alguns dos prelúdios deste segundo livro foram estreados pelo pianista Ricardo Viñes (1875-1943), o mesmo que, poucos anos antes, tinha estreado a obra Gaspard de la nuit de Maurice Ravel (1875-1937). in desnorte.blogspot.com (Maio 05, 2008)
Lords of Outland
Sou um admirador confesso e declarado do grupo mais dark underground dos vários que o meu amigo Rent Romus tem em marcha, os Lords of Outland. Neste quarteto jogam o versátil Rent Romus, moço trintão versado nas artes do acordeão, e nos saxofones alto, soprano e c-melody, cabendo-lhe também vozear para dentro duma máquina a ver no que dá; há ainda C J Borosque, electrónica e pedais de efeitos; Ray Scheaffer, baixo de 6 cordas; e Philip Everet, bateria, autoharp e electrónica. É desta invulgar e arrevesada combinação de músicos das áreas acústica e electrónica que o saxofonista da West Coast extrai a energia e a inspiração para os seus carrosséis sonoros, vulgo composições, que são tudo o oposto de uma música inócua, descritiva, confortável ou de bons sentimentos. Porque a realidade é grotesca, natural se torna que a arte reflicta esse lado menos conveniente e acomodatício. You Can Sleep When You're Dead (Edgetone Records, 2007), apanha o grupo no maior freakout de que há memória nos Lords of Outland, um dos expoentes do avant-jazz actual, bastante diferente das escolas de Nova Iorque e Chicago. Uma mistura luxuriante de catarse sonora e hipérbole psicótica de visões demoníacas. Mas calma aí, que nada disto se deve confundir com estardalhaço gratuito (gratuito aqui, para mim, só o exemplar que me calhou, porque me foi gentilmente oferecido pela artista, prática assaz saudável, que recomendo a todos os artistas que me interessem ouvir), ou com uma vulgar sessão em que se desatina forte e feio e há porrada de criar bicho. Não, aqui há ideias, há enquadramento, estrutura, mesmo que muito vaga e flexível, maturidade, saber (este pessoal da Califórnia sabe-a toda, de trás para a frente e têm menos cagança que o da Costa Este, em geral), expressividade e sólida cultura musical. O disco é bom, ouve-se várias vezes seguidas sem cansar. Sugere imagens visuais as mais coloridas e assim refresca os neurónios. Nessa medida faria particularmente bem àqueles (neurónios) habituados a uma dieta rigorosa de jazz murcho e copião, tão em voga nos salões da actualidade. Au contraire, a brincadeira aqui é muito a sério e por vezes em You Can Sleep When You're Dead a tensão sobe a pontos de meter medo. Mas não há papão nenhum, é só a mostrar os dentes, não morde. Só Lord (esta foi gira). Acordai, permanecei vigilantes, que tendes tempo para dormir depois do apito, digo, do Juízo Final. in jazzearredores.blogspot.com (8.5.08)
Pierre Boulez and the LSO
Boulez's final appearance with the LSO this season - catch him if you can!
'Boulez at 83 still conducts such music with greater power, clarity and finesse than anyone else ... a dazzling concert.' The Guardian, May 2008
'For a concert offering a showpiece in the classics of 20th-century music, look no further.' Financial Times, May 2008
'an astonishingly bold exploration of 20th-century modernism.' Evening Standard, May 2008
'Boulez is in his prime, warm and sensitive, detailed without being clinical ... this was also thrilling playing ... the LSO at its best.' LSO audience member Jonathan Lamede, May 2008
Sunday 11 May, 7.30pm
Barbican, London
Schoenberg - Die glückliche Hand, Op 18
Matthias Pintscher - Osiris (British premiere)
Bartók - Duke Bluebeard's Castle
Pierre Boulez, conductor
Michelle De Young, mezzo-soprano
Peter Fried, bass
BBC Singers
London Symphony Orchestra