2008/05/11

A agenda oculta do PCP

O PCP é um partido estranho. Mesmo em adolescente, quando era comunista e fui trabalhar para as obras para ser um "proletário a sério", sempre o intuí. Agora, este partido português-concerteza, veio dizer que o Tibete faz parte da China. Sim, faz. Na cabeça pequena e estreita dos dirigentes do PCP.

O PCP também deve achar que com o ditador Putin, a Rússia, finalmente, re-encontrou o bom caminho...

O PCP tem uma agenda própria, não conhecida. Com o mêdo de perder para BE, futuro inevitável, quase diria "escrito nas estrelas", o PCP vai entricheirar-se no "poder local". O "poder local" é o poder da pequena-grande corrupção, da mesquinhez mais redundante e da mediocridade de trazer por casa. É aí, no "poder local" que o PCP conta resistir ao tempo e à história. O PCP não o diz, mas o PCP quer que os professores dependam desse "poder local", como já acontece com as "auxiliares" nas escolas. De concursos nacionais isentos e imparciais, passar-se-ia à contratação por escola. É bom de ver o que iria acontecer se tal viesse a ser aplicado... Os "amiguinhos" seriam contratados e passariam a ser vassalos, agradecidos, das direcções das escolas, assim como dos "paizinhos" que cospem para o chão e batem nas esposas, que passariam a ter voz activa na contratação dos professores. O ensino em Portugal seria rapidamente destruído, e o país também. Então o PCP, que é um dos principais responsáveis pelo clima de desrespeito para com os professores que se vive nas escolas portuguesas, iria aparecer como o "salvador da nação". Mas não. Isto não irá acontecer, apesar do acordo sub-entendido entre os PS e o PCP para depois das eleições legislativas. As escolas e o "poder local" não irão, nunca em Portugal, escolher os professores. Portugal não é a Inglaterra. Muito longe disso. Nem a sociedade portuguesa está suficientemente educada (antes pelo contrário), nem os orgãos de decisão suficientemente sufragados por toda a sociedade civíl, para que isso possa acontecer sem perversões fatais para o futuro do país. Portugal é um país pobre e inculto, minado por "capelinhas" diversas, sobretudo no "poder local". Os concursos nacionais de professores são o garante da isenção e da independência dos professores face aos podres e variados poderes locais. O PCP tem uma aliada de força na Ministra da Educação, que é ex-apoiante da Frelimo e (também) responsável pelas atrocidades que aconteceram em Moçambique após a independência, para onde foi como voluntária aos 17 anos. Mas nem a ministra da educação está para durar dentro do PS, nem o PCP durará como partido de "peso" em Portugal. É certo que conta com a ajuda de Sócrates. Nós sabemos que sim. Mas Sócrates foi um erro de casting no PS, e no PSD, seu (do Sócrates) "lugar natural", o PCP não contará, nem de longe nem de perto, com os apoios que conta dentro do PS.


Únicos e legítimos? Onde?!

Dias da Silva diz que sindicatos são os únicos representantes legítimos dos professores

Pelos vistos, os sindicatos andaram mesmo aos papéis durante muito tempo - já o sabíamos, mas é bom confirmá-lo - e perderam completamente o comboio da contestação ao ME até conseguirem um balão de oxigénio com a manifestação de 8 de Março e depois com o entendimento com o ME.

No fundo, e eu até achei que o entendimento não foi necessariamente negativo e dei-lhe o meu apoio sob reserva, ME e sindicatos queriam era normalizar a situação.

* O ME condescendeu e reconheceu aos sindicatos um papel que lhe negara durante três anos, com o objectivo que eles passassem a enquadrar a acção contestatária multipolar dos professores. Reconhecendo aos sindicatos o direito a estarem presentes em organismos de que antes estariam arredados - substituídos por um Conselho de Escolas que se mostrou meio indócil - o ME precisou dos sindicatos para acalmar os docentes e neutralizar a parte tradicional da contestação.

* Os sindicatos precisaram de ter uma espécie de vitória simbólica para exibir, assim como de recuperar o protagonismo que estavam a sentir ter perdido desde 2005. Incapazes de reagir em seu tempo, os sindicatos uniram-se no sentido de mostrar uma frente única ao ME mas também aos docentes, globalmente fartos do modo de agir de um sindicalismo acomodado, sem imaginação e em risco de ser thatcherizado pela equipa do ME.

Aquilo a que se assiste agora é a uma tentativa dos sindicatos esvaziarem as formas alternativas de organização dos docentes e, nesse sentido, as declarações de João Dias da Silva são bem elucidativas:

Muitos sócios nossos podem ter-se sentido motivados pelos blogues, pelos SMS, pelas mensagens desses movimentos que aliás, durante a contestação, deram um contributo para o reforço do debate entre as pessoas.
(…)
Mas é preciso referir que há diferenças radicais entre o funcionamento dos movimentos informais de cidadãos e os sindicatos. E que, em democracia, a legitimidade da representação dos trabalhadores pertence aos sindicatos e a mais ninguém.
(…)
Não devemos criar confusões com entidades amorfas, que não têm dirigentes eleitos. Prestam contas perante quem? E de quê? Nos sindicatos as opções não resultam de conversas de café ou de encontros na sala de professores, são o resultados de do funcionamento de órgãos constituídos democraticamente. in educar.wordpress.com (Maio 11, 2008)

Vamos lá esclarecer uma coisinha: os sindicatos têm tanta legitimidade para representar os professores como outra qualquer organização de professores. Os sindicatos representam unicamente os seus associados. E pelo que vi no interior dos sindicatos de professores nem isso representam: representam muito menos porque a maior parte dos seus associados só o são para poderem contar com apoio jurídico em caso de necessidade. Também em caso de necessidade os professores saberão impugnar nos tribunais a ideia perversa que Dias da Silva, e todos os sindicalistas profissionais, tentam propagar: que eles são os "únicos representantes legítimos" dos professores. A UE, e suas instituições, pelo menos a este nível, saberão, se fôr caso disso, explicar que a "Europa dos Cidadãos" dá liberdade aos seus cidadãos, ao contrário dos regimes totalitários, de escolherem quem "legitimamente" os representa. Daí ser "Europa dos Cidadãos" e não "Europa das Nações". É que entre um e outro conceito vai a diferença que faz Dias da Silva fazer figura de idiota.


Os possessos

“Se queres conhecer o vilão, põe-lhe um volante na mão!”
[Adágio popular]

Alguns presidentes de conselho executivo — agora nomeados “directores” pela varinha de condão — estão a viver autênticos dias de plenitude profissional nunca antes experimentada. Pelos indícios externos, parece um estado de alma semelhante ao dos adolescentes que acabam de descobrir os segredos do sexo: uma certa lascívia no exercício constante da autoridade “patronal” está a manifestar-se num “quero, posso e desmando” que tem tanto de provinciano como de ridículo: parecem maestros de banda filarmónica, caminhando à frente da trupe, enquanto gesticulam abundantemente, de peito emproado como generais. Depois do 25 de Abril mais triste dos últimos trinta e quatro anos e do 1º de Maio mais sorumbático — e até com o seu quê de “retro”— parece que voltámos ao tempo do medo de falar e dos laconismos cínicos: “porque sim”; “porque eu decidi”; “porque tem de ser”; “estou apenas a cumprir ordens”. Mas… «não nos interroguemos sobre os nossos superiores, porque eles têm preocupações que nós nunca entenderemos», como já se dizia no tempo da senhora dona ditadura.
Alguns empossados, que nós, em tempos, elegemos, mas que hoje — sabendo o que sabemos — não elegeríamos de certeza, estão agora a saborear os aperitivos de um absolutismo que promete, um autoritarismo latente, que esperava apenas pela primeira oportunidade para desabrochar e eclodir. E aí está ele a rebentar, com este "Outono Socratista". Como aprendizes de feiticeiro com alguns truques de magia na varinha, eles estão a repetir os primeiros ensaios, testando a reacção dos seus subordinados, sentindo o prazer da obediência, a satisfação que pode proporcionar uma certa dose de arbitrariedade, o deleite com o medo que se instala. E medo é coisa que não falta aos professores deste país, acossados por todos os lados: toda uma sociedade, com a ministra da Educação e seus acólitos à cabeça, que demite os alunos e respectivos encarregados de educação das suas responsabilidades, atirando todo o ónus do nosso atraso sobre os professores, estigmatizando-os com o rótulo da preguiça e da incompetência. E medo é o que todos os docentes devem sentir com o sistema de avaliação, imposto com o único propósito de poupar dinheiro ao Estado: à custa daqueles que passarão sempre, nunca podendo passar da escolaridade mínima; à custa daqueles que passarão sempre os alunos, nunca atingindo o topo da carreira, nunca sendo respeitados — nem pela tutela, nem pelos alunos, que acabarão por culpá-los pelo seu fracasso, nem por esta casta de “colaboracionistas” , que se colaram como lapas a esta ministra de Educação coveira do ensino público, apoiando todas as suas reformas, mesmo aquelas que mais atentam contra a dignidade da classe docente. E alguns ousaram até ir muito mais além nesta devassa que é o sistema de avaliação: impondo prazos; fazendo aprovar documentos sem distribuição prévia para apreciação e eventuais correcções ou sugestões; ignorando lamentos e críticas dos seus subordinados (antigos colegas), a todos respondendo com um “já está aprovado e não se fala mais no assunto”; criando grelhas de observação e de registo de informação dignas dos “melhores” serviços secretos e a exigirem departamentos de contabilidade específicos — com T.O.C.’s e R.O.C.’s. Só não nos pedem a marca e o tamanho da roupa interior, pelo menos por enquanto! Enfim, estão a fazer o que fizeram alguns timorenses, quando foram invadidos pela Indonésia, o que fizeram alguns franceses quando foram ocupados pelas tropas nazis e o que fazem sempre todos os que têm roupas que podem ser vestidas do avesso: uns sentiram-se imediatamente indonésios, outros sentiram-se imediatamente alemães e outros sentiram-se imediatamente patrões dos colegas, determinados a extorquirem-lhes os “preciosos” números do “sucesso”. Embora eleitos pelos pares, já não os representam e nunca mais os vão representar. Transformaram-se na voz e nas garras deste regime “travesti”, de um diáfano e amaricado autoritarismo democrático, todo ele muito engomado, muito vincado e muito relativo, como convém.
Vislumbro apenas um pequeno senão neste “novo alinhamento”: os professores não se espremem como laranjas e a educação não acontece quando os docentes passam os seus dias apenas na esperança de acordarem deste pesadelo. Actualmente, há cerca de 45 mil professores nos “corredores da morte”, à espera de uma fatídica entrada no ensino, e 200 mil a viverem os seus dias «na esperança de um só dia»: o da saída, como quem espera, numa prisão, pelo fim da pena, arquitectando diariamente uma possibilidade de evasão, ainda que remota ou apenas para manter alguma sanidade mental. Nestas condições, a Escola tornar-se-á o inferno de uns e o purgatório de outros: purgatório de carências, de frustrações, de insatisfação e infelicidade social, de uma revolta crescente. E o futuro julgará aqueles que agora, com conhecimento do terreno, não contestam, não se indignam e até colaboram, como cangalheiros, neste funeral de direitos, liberdades e garantias. O futuro julgará aqueles que são agora “directores” apenas porque foram eleitos para representaram aqueles que agora tiranizam, escudando-se no dever de obediência e no receio da acção disciplinar. A demissão nem sempre é um sinal de fraqueza, de fuga às responsabilidades! Por vezes, pelo contrário, é manifestação evidente de verticalidade e de grandeza de carácter! Por vezes, quando se quer de verdade, quando se ama verdadeiramente o que se faz, é a última arma contra a prepotência e contra o aviltamento, a última bandeira da nossa dignidade!

Sei que muitos pensam como eu, mas quantos terão coragem de se juntar a este grito de indignação? Luís Costa in dardomeu.blogspot.com (9 de Maio de 2008, 23:14)


Irlanda

Ana Casimiro, Licenciada em Ciências Farmacêuticas

Terminei o meu curso em 1994 em Coimbra e voltei para o Alentejo, donde sou originária. Estive a trabalhar como Directora Técnica duma Farmácia durante 10 anos em Campo Maior. Nunca me senti reconhecida pelo meu trabalho. Pelo contrário, senti sempre uma espécie de repulsa. Eles quase preferiam que não fosse sequer á farmácia. A minha presença parecia perturba-los e eu, pouco a pouco, fui-me afastando. Considero que nesses 10 anos regredi na minha profissão, em vez de progredir. Não tinha poder de decisão sobre coisa nenhuma, e andei 10 anos a pedir a informatização da farmácia, o que nunca aconteceu!
O meu marido trabalhava na TMN, e estava francamente farto do trabalho. As oportunidades de trabalho no Alentejo sao muito poucas e ele sentia-se preso, sem qualquer hipótese de sair dum emprego que alem de não o satisfazer profissionalmenteeconomicamente também era mau. Em Agosto de 2005 todos os empregados da empresa tiveram aumento menos 3, entre eles o meu marido. Foi a gota de água e ele começou a procurar na internet trabalho em Espanha, pois vivíamos mesmo na fronteira.
No meio desta pesquisas ele abriu as propostas internacionais e começam a surgir empregos para farmacêuticos todos os dias.
Como a minha situação também não era a melhor, disse-lhe para por o meu CV. Nessa mesma semana começaram os telefonemas de empresas espanholas que se encarregam de procurar farmacêuticos para trabalhar no reino Unido e na Irlanda.
Um deles perguntou-me se estaria interessada na Irlanda, que havia bastante falta de farmacêuticos e que pagavam mais 20000 por ano que no Reino Unido. Respondi que não me importava. No fim de Setembro de 2005 fui a uma entrevista a Barcelona com o dono de 3 farmácias numa pequena cidade no oeste da Irlanda e passado uma semana recebo um telefonema a pedir-me que viesse a Castlebar para ver a cidade, e para decidir se queria mesmo vir. Ele estava um pouco preocupado com o facto de eu "arrastar" comigo o meu marido e 2 filhos,de 4 e 2 anos nessa altura.
Vim no dia 5 de Outubro, achei a cidade pequena e colorida e as pessoas simpáticas, acolhedoras e muito amigáveis.
Despedi-me do meu emprego e no dia 8 de Dezembro estava a trabalhar em Castlebar. Depois de 2 semanas de formação, passei ao cargo de Directora Técnica de 1 das 3 farmácias do grupo. Posso garantir que evolui mais em 2 meses aqui que em 10 anos em Portugal. O meu chefe está satisfeito com o trabalho que faco, sou reconhecida pelo meu trabalho, e estão sempre preocupados com o meu bem-estar e o da minha família.
Os meus filhos, que não falavam uma palavra de inglês, estão na escola, são fluentes, tem amigos. O meu marido trabalha em part-time e ganha o dobro do que ganhava em Portugal!
Considero que a mudança para a Irlanda só pecou por tardia! É claro que nem tudo é fácil, fazem-nos falta muitas coisas de Portugal como o sol, o céu azul, a comida. Mas no geral foi uma escolha acertada. Estou feliz aqui, profissionalmente dei um salto enorme e não tenho planos de voltar para Portugal. Posted by GAP in mindthisgap.blogspot.com, 10.5.08

Nota: os meus primos que foram à vinte anos para a Austrália e que viajam regularmente por todo o mundo, nunca mais puseram o "rabinho" na Tugolândia. Bem hajam!