É patético ler os portugueses politiqueses escreverem que não se deve intervir na Birmânia por questões de soberania (que para eles são mais importantes que a vida dos que estão a morrer cada dia que passa).
Os cinzentos politiqueses são uma casta amorfa, instalada, que emite pareceres por tudo e por nada. Na sua maioria consideram-se "cientistas sociais" (a aberração do termo "ciências sociais" é gritante escusando-me a tecer quaisquer considerações) e não hesitam em apontar onde está o bem e o mal, o que é bom e o que é mau. São da família dos eduqueses que têm, com uma perserverança inaudita, destruído o futuro de gerações de portugueses que agora são simplesmente "chutados" para o estrangeiro, de onde se arriscam a voltar, em tempos de "crise", enxutados para o país de origem que nada tem para lhes oferecer senão desemprego e miséria. Enquanto isso, os eduqueses, bem instalados, claro, continuam as justificar o injustificável e a preparar a experiência seguinte, porque ninguém lhes vai nem ao bolso nem à cara.
Só faltava mesmo os politiqueses fazerem passar, com a subtilidade habitual, que a Junta Militar de Narcotraficantes que domina e escraviza os birmaneses, representa uma soberania ou encerra qualquer legitimidade. Com a perversidade que os caracteriza, comparam a situação da Birmânia ao Iraque, atirando que quem foi contra a invansão do Iraque não pode ser a favor de uma intervenção na Birmânia. É um argumento requintadamente cínico pois, com a ligeireza e a cretinice habitual, passa por cima de uma calamidade natural que até agora já fez morrer e desaparecer mais de 120.000 seres humanos (vidas que para os politiqueses não passam de números), e com o facto das eleições na Birmânia terem sido ganhas por uma senhora que se encontra em prisão domiciliária porque a Junta não as reconheceu. Também "esquecem" o facto de, enquanto os cadáveres populavam o país logo a seguir ao furacão, a Junta aproveitou para fazer um Referendum que "legitima" a sua manutenção no poder. Também "olvildam" que o Iraque é trucidado por correntes muçulmanas que se matam umas às outras, fazendo da democracia algo exótico e inviável para aquela gente, ao passo que os birmaneses são budistas e, por natureza e cultura, pacifistas. Os politiqueses sabem de tudo isto muitíssimo bem. Simplesmente, tal como os primos eduqueses, são umas bestas.
Narcoditadura
A Birmânia é uma narcoditadura criminosa, onde os militares no poder preferem deixar morrer a população a ver o seu poder questionado. Ester Mucznik in Público, 22 Maio, pag 43
"Serão mais importantes as normas que protegem a soberania de cada país ou as que defendem a vida?", questiona ainda Bernard Kouchner. idem
O humor de Lurdes Rodrigues
Se tudo o resto falhar, Maria de Lurdes Rodrigues poderá fazer carreira no humor. A Ministra afirmou que as escolas não devem chumbar os alunos: "A repetência não serve os alunos e as escolas". E o curioso é que Lurdes Rodrigues diz estas coisas com um ar muito sério, não percebendo a graça involuntária que tem. Aliás, 'humor involuntário' é a expressão que melhor descreve esta pedagogia ministerial: a escola não deve chumbar o aluno, mesmo quando este não sabe fazer uma conta de dividir. Lurdes Rodrigues tornou explícito algo que já estava implícito no ensino português: 'aprender' já não é necessário. A escola já não ensina; a sua função é 'entreter'. Os adolescentes são entretidos enquanto os pais trabalham, e os professores ficam reduzidos à condição de "baby-sitters" com canudos. Que futuros cidadãos estão a ser criados neste facilitismo? Queremos cidadãos que chegam à faculdade sem hábitos de trabalho e sem capacidades básicas?
Lurdes Rodrigues revela o pior do 'eduquês'. Esta ideologia vive obcecada com o igualitarismo: todos os meninos são iguais, dizem os pedagogos. A escola do 'eduquês' oferece diversão e não conhecimento por causa de um ponto mui simples: se a escola ensinasse realmente as crianças, toda a gente perceberia que os 'meninos', afinal, não são todos iguais; há uns mais inteligentes, e há aqueles que merecem chumbar. Ora, chumbar alguém representa a negação do igualitarismo. Portanto, o 'eduquês' aboliu a 'retenção'. E, no processo, aboliu também o mérito e o esforço. Professores e alunos são forçados a marinar nesta mediocridade igualitária. Passam todos porque são todos iguais, eis o "slogan" do Ministério.
No fundo, o 'eduquês' é versão júnior dos 'direitos adquiridos'. No emprego, o paizinho pode ser incompetente, visto que não pode ser despedido. Na escola, o 'menino' pode ser preguiçoso, dado que não pode chumbar. O 'menino' passa de ano porque tem de passar de ano (mesmo quando é um mau aluno), tal como um funcionário público sobe de escalão porque tem de subir (mesmo quando é um péssimo funcionário). Miúdos e graúdos lá vão vivendo nesta orgia de direitos sem deveres que é Portugal. Dizem-me que a palavra saudade não pode ser traduzida para inglês. Certo. Mas também desconfio que a palavra "duty" não é traduzível para português. Henrique Raposo in clix.expresso.pt, 8:00, 12 de Maio de 2008